Em aula de Artes, 1º EM e pesquisador Savio Roz discutem história e política nos quadrinhos
Quem nunca leu ou apenas folheou uma história em quadrinhos, não é mesmo?! As histórias, com seus diferentes personagens, fazem parte das nossas vidas. Mas, você sabia que as narrativas retratam a sociedade de cada momento em que foi publicada, com seus anseios, questionamentos e desafios? Para falar sobre o tema com as turmas do 1º ano do Ensino Médio, a professora de Artes Visuais, Nilzete Araújo, convidou o historiador e pesquisador Savio Roz.
“Estamos iniciando a discussão sobre arte documental. Como exemplos, a gente traz desde a carta de Pero Vaz de Caminha entre outros registros. E nós vimos que a arte documental pode se apresentar de diversas maneiras, como nos quadrinhos, e isso é muito bacana”, explicou Nilzete.
Savio contou que nos quadrinhos, tudo, em alguma medida, tem um pouco de arte e um pouco de história, e que elas não se desvencilham da política. Para contextualizar sua afirmação, ele falou sobre o filme “Os 300 de Esparta”, de 1956, que inspirou a história em quadrinhos “300”, publicada em 1991 que, por sua vez, foi inspiração para o filme “300”, lançado em 2006. “É o mesmo evento histórico narrado em forma de ficção em períodos diferentes, com diversos acontecimentos entre os intervalos que interferem nas narrativas. Em 1956, a Segunda Guerra já tinha acontecido e os EUA queriam melhorar sua imagem. Então, nada melhor do que pegar uma história antiga que mostra apenas 300 soldados espartanos enfrentando 25 mil persas. No segundo filme, a narrativa foi reutilizada porque acabávamos de vivenciar o ataque terrorista às Torres Gêmeas e a invasão do EUA ao Oriente Médio. Então, é lançado um filme sobre uma população ocidental, que são os gregos, enfrentado persas, que são os povos que viviam na região que vamos conhecer depois como o Oriente Médio”, disse.
O historiador também trouxe exemplos de personagens que estão diretamente conectados ao momento histórico em que foram lançados e/ou publicados. Um deles foi o Capitão América, criado em 1941. “Pensou no Capitão América, pensou em política porque ele veste a bandeira dos Estados Unidos. No primeiro quadrinho, o Capitão América combatia nazistas. Na década de 70/80 fez a mesma coisa? Não! Porque o vilão não é mais o mesmo, o contexto histórico mudou”, pontuou.
Savio citou uma revista de 1971, na qual o Capitão América faz uma crítica a ações do governo norte-americano. “Ele está enfrentando um vilão comunista, que é um militar barbudo, perverso, dominador, e também está enfrentando um grupo de comunistas que são pobres fazendeiros no Vietnã. Aí ele pensa ‘Quer dizer que são dois tipos de comunistas?’. Ele diz uma frase maravilhosa nesse quadrinho: ‘Eu deveria ter batido menos e estudado mais, eu deveria ter entendido um pouco mais de política antes de ser um soldado’. Esse é o período da contracultura, período em que a população americana questiona a participação dos EUA na Guerra do Vietnã”, ressaltou.
Que bate-papo interessante, não é?! Vamos refletir e analisar mais a riqueza documental das histórias em quadrinhos? Obrigado, Savio!