Alunos participam de bate-papo com escritor Jeferson Tenório, vencedor do Prêmio Jabuti
O Anglo-Brasileiro recebeu o escritor Jeferson Tenório, autor do livro “O avesso da pele”, para um bate-papo com os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental e 1º e 2º anos do Ensino Médio. “O avesso da pele”, vencedor do Prêmio Jabuti 2021 na categoria Romance Literário, aborda temas sensíveis e marcantes na nossa sociedade, como racismo e violência policial. No encontro, os alunos tiveram a oportunidade de conversar sobre os temas da obra, a trajetória de Tenório e sua experiência como escritor.
Tenório falou sobre sua trajetória como escritor e revelou que não tinha o hábito de ler, mas isso mudou quando ele conheceu um professor de Literatura que dava aulas num cursinho pré-vestibular que ele frequentou. “Eu gostava de escrever, escrevia diários desde os 13 anos, mas não gostava de ler. Tinha 23 anos quando li um livro inteiro pela primeira vez. Conheci um professor que me influenciou e me fez perceber que eu estava lendo livros com os quais não me identificava, por isso não conseguia ler”, disse. Quando descobriu sua paixão pela leitura, ele passou a investir todo seu salário como office-boy na compra de livros. “Eu fazia faculdade particular, mas deixei de pagar a mensalidade para comprar livros. Foi então que comecei a estudar para ser aprovado numa universidade federal e deixar o salário para os livros”, relembrou.
Prêmio Jabuti – “O avesso da pele” é o terceiro livro de Tenório, e foi lançado em agosto de 2020. Vencedor do Prêmio Jabuti, o livro conta a história de Pedro, que, após o assassinato do pai numa abordagem policial, busca resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos. O aluno Miguel Inácio quis saber se algum personagem do livro era autobiográfico. “Todo personagem é uma parte de mim, mas nenhum deles é autobiográfico. Quando as pessoas me perguntam se são autobiográficos, recebo como um elogio, acho legal, mas são ficção”, afirmou o autor.
“O avesso da pele” vai sair das páginas do livro para ganhar as telas. O filme já está confirmado e deve começar a ser gravado em 2023. “Essa repercussão me deixa feliz, mas, também, angustiado, porque a narrativa é muito próxima da realidade”, pontuou. Tenório recordou que, desde jovem, recebeu orientações da mãe sobre como se comportar na rua e diante de uma abordagem policial. Para ele, as recomendações eram naturais até perceber que todo esse cuidado era por causa da cor da sua pele. “Você não pode sair sem identidade, você não pode fazer muita algazarra, não pode aparecer muito… Foi aí que notei o quanto era grave ser uma pessoa negra”, disse.
Antirracismo – Tenório ressaltou ainda que, para que tenhamos uma sociedade melhor para todos, é preciso que cada um assuma uma postura antirracista. “Não basta ser contra o racismo. Tenho recebido muitas perguntas sobre o que pessoas negras e pessoas brancas podem fazer para termos uma sociedade antirracista. E “O avesso da pele” propõe essa discussão e traz algumas respostas”, afirmou.
Os alunos quiseram saber qual o livro mais marcante que o autor escreveu, qual o favorito e o que o inspirou a escrever. A aluna Luísa Miranda pediu dicas para quem, como ela, gosta de escrever e já arrisca as primeiras páginas. “Quanto mais você ler, melhor você vai escrever; nunca ache que seu texto está bom o suficiente; e não tenha pressa para escrever” foram as dicas do autor.
O Anglo agradece ao autor Jeferson Tenório pela conversa sensível, enriquecedora e necessária. Agradecemos, também, aos professores da área de Humanas e Linguagens, que trabalham a temática abordada no livro em sala de aula, à bibliotecária Ana Paula Abreu e a todos que colaboraram para esse momento.
